ATA DA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 26-11-2002.

 

 


Aos vinte e seis dias do mês de novembro do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e oito minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Dia da Polícia Civil, nos termos do Requerimento n° 030/02 (Processo n° 0754/02), de autoria do Vereador Pedro Américo Leal. Compuseram a MESA: o Vereador Carlos Alberto Garcia, 1° Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor José Antônio Araújo, Chefe de Polícia Civil; a Senhora Helena Bonumá, Secretária do Governo Municipal e representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Delegado José Antônio Leão de Medeiros, Presidente da Associação de Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul; o Delegado Mário Cláudio Schneider Marcelino, Presidente da União Gaúcha dos Policiais Civis – UGAPOCI; o Senhor Paulo Lucas de Moura, Presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil - SERVIPOL; o Senhor Luiz César Machado Mello, representante da Associação dos Comissários da Polícia Civil; o Vereador Pedro Américo Leal, Secretário “ad hoc”. Também, foram registradas as seguintes presenças: do Tenente-Coronel Jorge Luís Corcete Serpa, representante do Comando Militar do Sul; do Tenente Coronel Gil Renato Merazzi, representante do V Comando Aéreo Regional – COMAR; do Major Gerson Markus, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; do Capitão Corbari Glauco, representante do Curso Preparatório de Oficiais da Reserva de Porto Alegre – CPOR; do Tenente Alexandre Pezzi, representante do 3° Regimento de Cavalaria de Guardas – RCG. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Pedro Américo Leal, em nome das Bancadas do PPB e PPS, cumprimentou os integrantes da Polícia Civil pelo transcurso de seu dia, salientando a importância das atividades desenvolvidas por esses servidores, destacando a figura histórica do Delegado Brasil Milano, Patrono da Polícia Civil e defendendo a adoção de medidas que viabilizem a alteração do sistema carcerário e da legislação penal brasileira. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou as presenças do Delegado Frederico Sober, ex-Chefe de Polícia Civil, do Delegado João Cândido e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, prestou sua homenagem ao transcurso do Dia da Polícia Civil, afirmando a gratidão da população gaúcha a esses servidores pelos relevantes serviços prestados e propugnando pela melhoria nas condições de exercício de suas atividades, especialmente quanto à aquisição de equipamentos e à ampliação de sua qualificação profissional. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, salientou a importância da comemoração, por este Legislativo, do Dia da Polícia Civil, declarando que esta é uma das mais relevantes instituições permanentes e comentando dados alusivos à remuneração percebida por seus servidores e às dificuldades por ele enfrentadas no desempenho de suas funções legais. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças: do Delegado Gilberto Rocha, Sub-Chefe de Polícia; do Delegado Antoni Firmino, do Departamento Estadual de Investigações Criminais - DEIC; do Delegado Conceição Pinheiro, da Corregedoria da Polícia Civil - COGEPOL; do Delegado Pedro Undergarim, do Departamento de Polícia do Interior - DPI; do Delegado Jerônimo Pereira, do Departamento de Polícia Metropolitana - DPM; do Delegado Pedro Facini, do Departamento de Administração Policial - DAP - e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, manifestou-se sobre o transcurso do Dia da Polícia Civil, analisando os problemas enfrentados pela instituição no combate à criminalidade urbana e abordando o desprendimento e a dedicação demonstrados pelos seus servidores, no intuito de vencer obstáculos e exercer suas funções com eficiência. O Vereador Sebastião Melo, em nome da Bancada do PMDB, saudou o Vereador Pedro Américo Leal pela iniciativa da presente solenidade, externando suas impressões acerca da influência exercida pelos problemas sociais sobre o aumento da delinqüência e afirmando a necessidade de que sejam implementadas medidas para melhorar as condições de trabalho dos policiais civis. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PSDB, homenageou os servidores da Polícia Civil pelo transcurso do seu dia, discorrendo sobre eventos ocorridos com Sua Excelência e que revelaram as dificuldades enfrentadas por esses servidores no exercício de suas funções, bem como a necessidade de uma melhor compreensão dessas dificuldades, de modo a viabilizar a obtenção de soluções para as mesmas. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor José Antônio Araújo, que destacou a importância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre ao Dia da Polícia Civil. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e trinta e dois minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Carlos Alberto Garcia e secretariados pelo Vereador Pedro Américo Leal, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Pedro Américo Leal, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1° Secretário e Senhor Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Dia do Policial Civil. Compõem a Mesa: este Vereador, Ver. Carlos Alberto Garcia; o Dr. José Antônio Araújo, Chefe da Polícia Civil; a Ver.ª Helena Bonumá, Secretária Municipal de Governo, neste ato representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Delegado José Antônio Leão de Medeiros, Presidente da Associação de Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul; o Delegado Mário Cláudio Schneider Marcelino, Presidente da UGAPOCI; o Dr. Paulo Lucas de Moura, Presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil; o Dr. Luiz César Machado Mello, representante da Associação dos Comissários da Polícia Civil; o Ver. Pedro Américo Leal, proponente desta Sessão Solene; o Tenente-Coronel Jorge Luís Corcete Serpa, representante do Comando Militar do Sul; o Tenente-Coronel Gil Renato Merazzi, representante do V COMAR; o Major Gerson Markus, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; o Capitão Corbari Glauco, representante do CPOR de Porto Alegre; o Tenente Alexandre Pezzi, representante do 3.º RCG.

Srs. Vereadores, Sr.ªs Vereadoras, Srs. Diretores do Departamento, Divisões, titulares de Delegacias e funcionários da Polícia Civil, demais autoridades presentes, Senhores da Imprensa, senhoras e senhores, convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. Pedro Américo Leal, proponente desta homenagem, está com a palavra e falará em nome das Bancadas do PPB e do PPS.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Polícia Civil. Hoje comemoramos uma data da Polícia Civil. Neste Plenário, uma semana atrás, saudava a Brigada Militar, o seu Patrono Coronel Massot, e, hoje, reverenciamos o Delegado Brasil Milano, Patrono da Polícia Civil. E assim será através dos anos. Não conheci o Coronel Massot e nem o Delegado Brasil Milano, o que, na verdade, é uma coisa até de se estranhar.

Esta reunião aqui, por que é feita? Foram dois Projetos de nossa autoria, que os Vereadores desta Casa me cativaram. A Helena me olha... Você me ajudou bastante.

Os Vereadores entenderam sem que eu falasse e deram a sua aprovação tácita. No ar pairava, naquela época – refiro-me a dois ou três anos atrás – idéias do Governo, que queria inadvertidamente, na minha opinião, unificar as Polícias a qualquer preço. Polícia Militar e Polícia Civil. Ora, eu tenho alguma experiência com a vivência que tive entre essas duas Polícias; tinha que dar a minha contribuição. E assim, de repente, sem planejamento, de supetão, a toque de caixa, era totalmente impossível. Mas esperava-se isso. Esta Casa aqui é a casa do contraditório. Sem o contraditório ela não tem vida. Imaginem os senhores se todos concordassem aqui: esta Casa não teria essência. A vida dela é o contraditório, o respeitoso contraditório. Então, por que a muda concordância de Vereadores, até da oposição? Eles concordaram, em silêncio. Senão o bem público, pelo que agradeço a todos os Vereadores. Só tive uma abstenção - a Helena sabe de quem -, mas de um Vereador a quem eu prezo muito e admiro. Era preciso levantar o entrave, o obstáculo, porque agigantava-se a onda da unificação, de repente, de afogadilho. Era um perigo para as duas corporações. Não podia vir!

Fui colega do Desembargador Paulo Bisol durante quatro anos na Assembléia Legislativa. Lá tivemos memoráveis debates sobre segurança e notava, sentia que um grupo o cercava em assunto que Bisol não dominava: segurança pública. É preciso ser profissional de segurança pública ou ter vivido muito segurança pública para poder entender alguma coisa.

Num encontro há poucos meses, antes das eleições, no Teatro do IPE, recebemos, juntos, a Comenda do Corpo de Bombeiros por serviços prestados. Na platéia, antes da cerimônia, falávamos sobre as minhas preocupações, sobre a hierarquia, sobre a disciplina, que não via respeitadas. Ao lado, Tarso Genro a tudo ouvia, com muita atenção, é testemunha de tudo isso. Encaminhando-se para o fim da solenidade, coube a ele agradecer - sim, o Secretário - em nome dos distinguidos, e o Secretário veio a me surpreender. Em seu discurso referiu-se a nossa conversa pessoal, no palco, dizendo da sua confiança, da admiração que ele tinha pela Polícia Civil, pela Brigada Militar, referindo-se a quanto as duas corporações representavam para ele, deixando-me boquiaberto. Não combinavam as coisas que dizia Bisol com o que fazia ou pretendiam dizer dele. Terminada a solenidade, não pude impedir, pois enxergava o então Deputado Bisol falando na tribuna, nos tempos da Assembléia Legislativa, subi e fui abraçá-lo - por que não dizer? - afirmando-lhe que o imaginava prisioneiro de um grupo de civis e militares, da Polícia Civil e da Brigada Militar, todos policiais, enveredando no “contra- azimute” dos acontecimentos e da realidade.

Uma idéia central, ideológica, dominava o cenário, pois, um partido que pela primeira vez chegava ao poder sentia no costado, nas ilhargas, todas as vicissitudes que agüentara nas demonstrações públicas, nas greves, e reagia contra a polícia, contra as polícias. Como mecanismo de defesa investia na segurança pública. Eram os terceiros, segundos, primeiros escalões, que tinham pressa nas mudanças. Chamei a palavra e foi repetida pela mídia: “Desmontagem na Polícia Civil e na Brigada Militar.” Operação desmontagem! Todos ouviram esse termo. O ambiente tornou-se um desânimo, um desestímulo, uma falta de objetivo, um desinteresse e até um confronto entre as duas corporações e a Secretaria de Segurança, coisa completamente desnecessária, descabida. Enveredava-me por um clima de desencontro, mas agora resta reerguer a Polícia Civil e a Brigada Militar, em tempo, pois os homens são muito bons; eu os conheço e os conheci. Muitos deles eu instruí e estão aqui.

Vamos necessitar, no âmbito federal, de ajuda de nossos parlamentares Deputados Federais para a construção de presídios federais, com celas – não ajuntamentos, não alojamentos de presos – e precisamos obter a alteração das leis de execuções penais e da parte infracional do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Não há como fazer Polícia no Brasil, não há como se obter o Estado Democrático de Direito, e sempre digo isso, desafiando os bacharéis nesta tribuna, entre eles o Ver. Sebastião Melo, que está aqui presente, para me responder – repito a V. Ex.ª –, sem medidas legislativas de revisão da parte infracional do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei de Execuções Penais; não há Estado Democrático de Direito no Brasil.

Também precisamos fazer a revisão do sistema penitenciário, seus quadros, remuneração, efetivos, profissionais à testa dos escalões. É preciso investir em Segurança Pública, a sociedade necessita de segurança. Vejam nas últimas eleições, qual foi a tônica? Têm dúvida? Segurança Pública! Prédios, viaturas, armamento, técnicas buscadas em países estrangeiros, legislação que não seja paternalista, que venha conter o vagalhão da droga que assola os lares do Brasil, ultimamente caracterizado por dois quadros melancólicos: do Gustavo, que dizia: “Há seis anos sou viciado em drogas. Estou no segundo ano de Direito.” E matou a avó! E matou a empregada! A outra menina matou os pais. Cúmplice! A droga! O que estamos fazendo? Discutindo política e a droga avançando.

Enquanto aqui, com as próprias forças, vamos conter os foragidos - eles estão atacando nas cidades do Rio Grande do Sul todo -, vamos restituí-los às prisões. São seis mil foragidos, sabiam? Seis mil foragidos que estão nas ruas, atacando. Como é que eles podem comer? Como é que eles podem dormir e viver? Tem de roubar, tem de atacar.

O aumento de efetivos de vinte para oitenta funcionários das Delegacias de Capturas. É claro que a Delegacia de Capturas tem de ser engrossada, meu Chefe de Polícia, imediatamente! Temos que dar meios para a Delegacia de Capturas. Aumento de vinte para oitenta homens. Aumento dos cartórios, de homens de investigação. Fortalecer a Delegacia de Capturas e entregar os presos foragidos ao sistema prisional, que tem de se virar, ele tem de responder porque existe.

Triplicar as viaturas de seis para dezoito, para conduzir os presidiários que escapam e precisam ser recapturados. Mas isso é uma longa conversa de cunho interno. E V. Ex.ª do Comando da Brigada Militar, de homens profissionais que precisam pensar, por quê? Porque é a segurança da sociedade e a segurança está desamparada. Foi desamparada neste Governo. A Helena Bonumá me olha com olhos... Foi desamparada neste Governo. É uma longa conversa, não dá para nós nos perdemos nessa conversa.

Meu Presidente, muito obrigado se excedi o tempo, tinha muita coisa a dizer, mas o dia virá. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Queremos registrar a presença do ex-Chefe de Polícia Delegado Frederico Sober, bem como o nosso Chefe de Segurança Delegado João Cândido, responsável pela segurança desta Casa, juntamente com o corpo funcional aqui presente.

O Ver. Adeli Sell está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. ADELI SELL: Meu caro Ver. Carlos Alberto Garcia que preside esta Sessão; Secretária, Ver.ª Helena Bonumá, que representa o Governo Municipal, ao cumprimentá-los, cumprimento todas as autoridades já nominadas; meus colegas Vereadores; cidadãos e cidadãs de Porto Alegre. Tenho a honra e a satisfação de falar em nome do meu Partido, o Partido dos Trabalhadores, e dizer ao meu colega, Ver. Pedro Américo Leal, que é uma longa conversa. Ela não termina nesta Sessão Solene, até porque este não é propriamente o espaço que nós vamos ter que ocupar para fazer um grande debate sobre a Segurança Pública da nossa Cidade, do nosso Estado e do País. Esse é um debate permanente.

Nós temos tentado, nesta Casa, colaborar com algumas reflexões sobre a questão da Polícia e, nesse dia de homenagens, nós queremos dizer da nossa gratidão às servidoras e aos servidores da Polícia. O policial, feminino ou masculino, antes de mais nada, é um servidor público, um servidor público especial, meu Chefe de Polícia, muito especial, porque trabalha em circunstâncias especiais: trabalha com o perigo; trabalha com risco de vida; e trabalha num mundo em que seu tecido social começou, nos últimos anos, a se desagregar perigosa e muito rapidamente.

Nós temos problemas de insegurança nos quatro cantos do Planeta. Nós precisamos levantar as nossas vozes; nós temos que colocar a nossa experiência; nós temos que colocar nosso espaço, como parlamentares, a serviço da defesa de uma qualificação cada vez maior do nosso Policial Civil. Nós não precisamos apenas de homens e mulheres, servidoras e servidores. Nós precisamos de instituições – instituições – que junto ao ser humano tenham também a capacitação técnica, profissional, o armamento, os equipamentos e, evidentemente, as condições de se deslocar, de fazer inclusive o serviço de inteligência, pois hoje nós estamos sendo abalroados pela violência, pela insegurança, muito pela nossa falta de interligação com outros setores da sociedade. Nós temos que, permanentemente, independentemente de partidos políticos, das nossas ideologias e das diferenças que nós temos, Ver. Pedro Américo Leal, nós temos de ter as interfaces entre o Poder Público local, Estadual e Federal.

Nós precisamos pensar como guardar as nossas fronteiras contra o contrabando, a pirataria, o narcotráfico, o contrabando de armamento. Como nós vamos tratar dessas questões no cotidiano sem equipamentos, sem qualificação, sem condições.

Eu também falarei do contraditório, do contraditório entre o que nós pensamos, o que nós almejamos, o que nós sonhamos e o que nós não conseguimos fazer – nós não conseguimos fazer.

Não estou aqui justificando o nosso Governo, não, longe disso, porque eu acho que quem é governo tem de sempre pensar que fez campanha para ser governo. Mas quero dizer que nós precisamos, além dos governos, muito além dos governos, um trabalho com toda a sociedade. Se nós não tivermos essa compreensão global, nós faremos debates intermináveis e continuaremos neste contraditório entre o querer e o poder fazer. Eu tenho certeza de que a cada dia mais nós vamos nos aproximando e vamos, sem dúvida nenhuma, superando esse contraditório.

Eu tenho a certeza de que nós, homens e mulheres de bem deste Estado, desta Cidade e deste País faremos muito. E nós temos que contar sempre com a nossa Polícia Civil.

Servidoras e servidores da Polícia Civil, o nosso abraço, o nosso carinho e o nosso reconhecimento. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra pelo PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É muito importante esta Casa, que é a representação política da cidade de Porto Alegre, assinalar, como tem feito anualmente o Ver. Pedro Américo Leal, oriundo das Forças Armadas do nosso País, e que, em determinado momento, exerceu a Chefia de Polícia deste Estado, essa efeméride, até por que, mais do que nunca, os anos passam e observamos e registramos a importância daquilo que nós consideramos como as instituições permanentes da nacionalidade. Dentre elas, lá na Constituição, estão presentes as Forças Armadas; no âmbito do Estado temos a Brigada Militar e a Polícia Civil.

Quantas vezes esta que hoje é objeto da nossa homenagem foi objeto de críticas, de incompreensão, mas o tempo passa e o perspectivismo histórico reforça, de forma indiscutível, que a Polícia Civil se constitui numa instituição permanente e está acima dos próprios seres humanos, dos acertos e até dos erros que porventura possam existir.

Esta Sessão Solene em homenagem ao Dia do Policial proporciona a todos nós uma reflexão sobre a questão maior, que talvez transcenda e seja uma disposição e o espírito de todos nós, atingindo as diversas camadas funcionais do nosso País: é a questão da remuneração. Se formos avaliar a remuneração do Investigador, do Inspetor de Polícia, do Comissário, nós nos surpreenderemos. Eu posso estar dizendo o óbvio para os que estão aqui presentes, mas é bom registrar, porque é a interpretação desta Casa: não se faz segurança pública sem respeito àquele que exerce as funções inerentes à segurança pública, ao homem que exerce, lá na rua, lá na ponta do enfrentamento, as dificuldades inerentes ao enfrentamento da delinqüência.

A criminalidade estrutura-se cada vez de forma mais difícil; por exemplo, temos o crime organizado. Será que o Estado - esta é a reflexão que ponderamos aos senhores no dia de homenagem ao policial - faz o que deve, por intermédio das suas autoridades maiores, valorizando aquele que exerce atividade do agente policial com as condições que lhes são oferecidas, no cotidiano, no seu dia-a-dia, na sua ação funcional? Aí é que está, Ver. Pedro Américo Leal, V. Ex.ª que tem sido intérprete do sentimento de inconformidade e de indignação, talvez o nó da questão. E falo dentro da visão do meu Partido, o PDT, que já foi, por inúmeras vezes, Governo neste nosso Estado - no período de quarenta e cinco, com o Governo Ernesto Dornelles; depois o Governo Leonel Brizola, o Governo Alceu Collares -, com os esforços, com as contribuições de policiais. Em nenhum momento - e isto eu gostaria de gizar, Ver. Elói Guimarães -, respeitando a estrutura profissional da estrutura policial do Estado, em nenhum momento em que tivemos posições e convicções sobre todos os temas, procurando caminhos e perspectivas para a solução dos problemas na sociedade brasileira, em nenhum momento, governo que fomos, em nenhum momento, tentamos impor a vontade do Partido sobre a instituição policial. E qualquer tentativa que se faça de ideologizar quaisquer dessas instituições permanentes se esboroa e se desmoraliza no tempo. Essas são algumas reflexões - o Sr. Presidente já me assinala, por inúmeros apitos, que o meu tempo está esgotado - que gostaríamos de assinalar como nossa contribuição a este dia. Mas o mais importante é dizer que esta Casa, como representação política da sociedade de Porto Alegre, quer realçar e destacar a importância do policial civil, do mais humilde funcionário ao mais alto cargo da sua hierarquia. Esta é a mensagem de respeito e consideração a uma categoria profissional que tanto bem produz e tantas vezes tanto é incompreendida. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Queremos registrar também as presenças do Subchefe da Polícia, Delegado Gilberto Rocha; do Delegado do DEIC, Antoni Firmino; da COGEPOL, Delegado Conceição Pinheiro; do DPI, Delegado Pedro Undengarim; do DPM, o Delegado Jerônimo Pereira, e do DAP, Delegado Pedro Facini.

O Ver. Elói Guimarães está com a palavra para falar em nome do seu Partido, o PTB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Ex.mo Sr. Ver. Carlos Alberto Garcia, que preside os trabalhos desta Sessão Solene, Srs. Vereadores e Sr.ªs Vereadoras. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Também está presente o Ver. Antonio Hohlfeldt, Vereador desta Casa que, a partir de janeiro, dividirá com o futuro Governador do Estado as altas responsabilidades de administrar o Estado do Rio Grande do Sul. Dizia o Ver. Antonio Hohlfeldt, quando homenageávamos a Brigada Militar, que a Segurança precisa de recursos, muitos recursos, porque a sociedade está pedindo. Essa é a grande verdade: a sociedade está pedindo segurança.

Mas, prezadas autoridades policiais, a história da Polícia Civil é muito rica e muito bonita. Se voltarmos à História vamos ver que a Revolução de 1930 se fez, talvez, com a contribuição significativa da Guarda Civil. E é exatamente ali que, por assim dizer, nasce a nossa Polícia Civil gaúcha, sob o estigma da lealdade, da bravura, da dedicação, enfim, de todos esses predicamentos que ao longo do tempo foram tecendo uma organização policial que, ao longo do tempo, se credenciou perante a sociedade gaúcha e de resto brasileira. Então, esse é um momento muito importante, quando a Câmara Municipal de Porto Alegre, a Casa do Povo, celebra o Dia da Polícia Civil. Esta que tem a sua responsabilidade, a questão mais delicada, mais difícil, mais complexa que é lidar, exatamente, com a delinqüência, com a violência. É, por assim dizer, no seu papel, ao lado também da Brigada Militar, que a Polícia Civil estabelece o primeiro choque do Estado, porque a Polícia é o Estado. O primeiro choque do Estado contra a violência, contra a delinqüência, contra a ação daqueles que querem destruir a sociedade, porque quem atenta contra a vida humana, contra o ser humano, está destruindo a sociedade. Então, é a Polícia Civil que lida com este material, que é altamente perverso. Está aí a história de holocaustos, de contribuições de sangue dadas pela Polícia Civil na defesa da sociedade, porque a Polícia Civil existe exatamente para defender a sociedade, não há outro significado e outro sentido ideológico senão se colocar na defesa da sociedade. Por isso nós temos, ao longo do tempo, feito debates nesta Casa, onde objetamos determinadas atitudes políticas que se voltaram contra a Polícia Civil, porque não há instituição, Sr. Presidente, autoridades, onde, vez por outra, não haja acontecimentos que depõem contra essas instituições. Mas o que temos que examinar é o conjunto, é a sua totalidade, e a Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul é credora, sim, da admiração da sociedade gaúcha.

O Partido Trabalhista Brasileiro, em meu nome e em nome do Ver. Cassiá Carpes, saúda e agradece a essa Instituição. É importante este momento em que temos a oportunidade de homenagear a Polícia Civil, instrumento do Estado, instrumento a serviço da defesa da sociedade. Quando se vê nos carros, nas viaturas, que a Polícia existe, enfim, para servir, é isso aí, exatamente isso aí. Ela existe como um instrumento da sociedade a serviço da sociedade e não da delinqüência, porque a polícia é exatamente o primeiro confronto, a ação da mão do Estado contra aqueles que querem depor contra a própria vida, a própria sociedade. Portanto, nós, aqui na Câmara, temos debatido essa questão de segurança, temos colocado o nosso ponto de vista de determinadas atitudes. Falava aqui o Ver. Pedro Américo Leal dessa visão equivocada na questão da segurança. Nós temos que prestigiar os nossos policiais através de todos os recursos para que a sociedade possa ter o mínimo de segurança. Estão aí os acontecimentos, a violência num crescendo, é assustador, as pessoas não podem mais trabalhar, está sendo negado o direito sagrado de trabalhar, empresas fechadas, grades e mais grades. Nós temos que prestigiar a Polícia Civil, encorajá-la, instrumentá-la para que ela possa fazer cobro a esse crescimento da delinqüência, que tem outras causas, é bem verdade. O modelo que tem de se colocar em prática é um modelo que trate a delinqüência, a violência da forma como elas merecem, e não, como muitas vezes ocorre, com todo aqueles afagos e “coisas aqui e coisas ali”. Isso está levando a sociedade a reclamar comportamentos mais rigorosos da nossa Segurança. Obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Sebastião Melo está com a palavra e falará em nome de seu Partido, o PMDB.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero fazer uma saudação especialíssima a esse extraordinário colega, Deputado, Vereador de tantas contribuições, Secretário, homem que umbilicalmente está ligado à Segurança Pública e que propõe esta justíssima homenagem ao dia do Policial Civil, meu querido Ver. Pedro Américo Leal.

Quero abordar esta questão, primeiramente, sob dois eixos: a segurança Pública sob o ângulo social e o da impunidade. Indiscutivelmente que, por detrás, como pano de fundo, a questão da segurança pública tem uma questão social, porque o meio faz o cidadão. A melhor segurança pública de um país, de uma nação, de uma cidade, de um Estado é ter uma melhor distribuição de renda; é ter o emprego, saúde, educação e, principalmente, a dignidade humana. Esta é a primeira segurança pública, e é o desafio de qualquer governo, de qualquer matiz partidário. Mas também há um outro fator, José Araújo, que também campeia, que faz a insegurança, que é a impunidade. Com certeza não é o tamanho da pena, porque se fosse assim, os países que adotaram – e são algumas dezenas – a pena de morte, Ver. Cassiá, já teriam resolvido a questão da criminalidade. Mas, a certeza da impunidade é um fator determinante para que a delinqüência aumente. E isso é uma questão que efetivamente tem de ser revisada no nosso País: a questão da impunidade, que hoje reina em todos os cantos, Ver. Pedro Américo. E isso não contribui para a cidadania. Mas eu quero baixar para as questões práticas.

A Polícia Civil hoje tem cinco mil e poucos homens, muitos na porta para se aposentar, Delegado Leão de Medeiros, e precisa de doze, quinze mil. Não dá para fazer segurança pública desta forma! A Academia de Polícia lamentavelmente vai mal. Recebo esses informes quase que semanalmente; dizem os policiais. Não estou dizendo, prezado Chefe de Polícia, que é uma questão só deste Governo. Acho que é histórico, mas talvez se acentue mais agora. Os concursos públicos, parece que há pouco abriu um concurso público, mas se falta tanta gente, houve desmazelo com os concursos públicos. E a informática? Como é que eu vou combater a criminalidade potencial com essa desinformação da Polícia Civil? É verdade que veio dinheiro do Governo Federal, 12 milhões este ano, e o projeto pouco saiu. Havia, lá no Governo anterior, um projeto até muito interessante, das radiobases; informatizar e fazer ligações de toda a Grande Porto Alegre. Isso, lamentavelmente, não saiu muito do papel.

Mas eu vou mais. Esses dias, recebi, no meu gabinete, a Presidenta do Instituto de Perícia, e ela me dizia que tem seis mil armas não-periciadas numa sala do Instituto. Isso é um absurdo, mas é a realidade, noticiada pela imprensa.

Fechamento dos postos do Pronto Socorro e no Cristo Redentor, Delegado. O cidadão muitas vezes foi elucidado, porque lá foram registrados, para perquirir imediatamente o criminoso. Foram fechados! Na nossa avaliação, isso está equivocado!

Outra coisa, senhores policiais, essa questão da banda podre da polícia não ficou bem. Os policiais esmagadoramente são gente séria e honesta. Se tem problemas, vamos extirpá-los. Mas vamos dizer onde estão e, aí, vamos extirpá-los; senão fere toda a Corporação. Portanto, são muitos desafios. É curto o tempo para abordá-los no seu conjunto, mas, em nome da nossa Bancada, do PMDB, queremos fazer uma saudação muito grande a todos os servidores da Polícia Civil, desde o mais modesto, que tanto contribui lá no campo da Polícia Judiciária, e este modesto Advogado, que há muito tempo atua na área do Júri, sabe o quanto é duro, o quanto é difícil aquele trabalho que a equipe policial realiza, às vezes não compreendido. Sabemos que essa é uma instituição que está acima de governos, está acima de partidos políticos, porque os governos passam e a instituição continua.

Então, portanto, a nossa saudação muito afetiva. Parabéns Vereador e colega Pedro Américo por essa extraordinária iniciativa, e que esta Sessão sirva para reflexão. Não tenho nenhum desejo de ser o dono da verdade, apenas expresso e socializo preocupações que tenho ouvido nesta Casa, nas ruas, nas esquinas, nos lares e nos bares. A segurança pública é um desafio para qualquer governo. E, para nós, que estamos assumindo o Governo - e está aqui o nosso Vice-Governador eleito Antonio Hohlfeldt - será um grande desafio, Ver. Antonio Hohlfeldt, mas sei que V. Ex.ª, junto com o companheiro Rigotto, e tantos outros, entre tantos desafios, vão fazer voltar o estímulo às nossas corporações. Sem ele não se constrói cidadania, não se constrói segurança pública e não se reconstrói uma relação digna com a sociedade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Ver. Antonio Hohlfeldt está com a palavra, pelo PSDB.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Eu havia pedido que o Ver. Pedro Américo Leal, até por ser ele o proponente desta Sessão, fizesse a representação, mas o Vereador disse que esqueceu, mas, na verdade, não esqueceu: ele se negou a fazer essa representação, porque ele me desafiou a ocupar este microfone. E vejo-me obrigado, portanto, a aceitar o desafio do Ver. Pedro Américo Leal.

Queria que os senhores considerassem a minha manifestação fundamentalmente como uma manifestação de um Vereador, Líder de uma Bancada, o PSDB, em meu nome e no nome do Ver. Paulo Brum, mas sei que vai difícil separar a condição do Vereador da condição de futuro Vice-Governador. Então, em primeiro lugar, eu quero-me permitir fazer uma homenagem a todos vocês e às categorias representadas por vocês, Policiais Civis e Policiais Militares, através daqueles Policiais que me são mais próximos, que são exatamente o Ver. Leão de Medeiros, que foi o meu Vice-Presidente nesta Casa, durante a minha gestão, e que depois, retornando à atividade policial, é hoje Presidente de uma das entidades de representação dos senhores; ao Ver. Pedro Américo Leal, que tem toda uma história que dispensa qualquer adjetivo ou comentário; e, me permitam, ao Escrivão Adroaldo Rodrigues, que é meu companheiro de Partido, e que também foi um dos que, vinculado a uma outra entidade dessas, participou muito de perto desta e de outras campanhas. Eu poderia aqui mencionar muito provavelmente cada um de vocês, companheiros de vocês, que, ao longo dessa jornada, tiveram diferentes momentos de encontros conosco, como certamente com outros candidatos e que trouxeram as suas ansiedades, trouxeram as suas expectativas, trouxeram os seus dramas no sentido de que, independentemente de quem ganhasse a eleição, nós pudéssemos resgatar fundamentalmente aquilo que é o papel da Polícia, como instituição, e dos policiais, porque não se faz Polícia sem aquilo que é a matéria prima básica, que são os homens, as mulheres, o elemento humano.

Dois Vereadores, o Ver. Isaac Ainhorn e especialmente o Ver. Sebastião Melo, que me antecederam, de uma certa maneira tocaram nas coisas que foram as nossas polêmicas, os nossos debates, as nossas discussões, e portanto, não vou voltar a esses temas, mas quero aqui referir três episódios que tive ao longo dessa campanha e que me marcaram bastante. O primeiro foi quando, logo no início, no final de julho, início de agosto, tive eventualmente um episódio com um acidente de trânsito, e fui fazer o registro devido numa delegacia civil. Era de noite, quase 11h, estavam lá dois ou três policiais trabalhando, uma ou duas pessoas sendo atendidas; aguardei normalmente, e fui extremamente bem atendido, e não era por ser eu especificamente, até porque num primeiro momento não fui reconhecido, mas me marcou a espécie de solidão e de vazio dessa delegacia de polícia de bairro. A luz fraca, o computador apagado, porque não tem ligação on line e a máquina de escrever velha sendo usada. Esse foi o primeiro retrato que eu tive, de uma certa maneira, da situação de desafio em que normalmente vocês se colocam no dia-a-dia para cumprir direito o trabalho do vocês. A segunda experiência foi quando da morte do soldado assassinado, aquele soldado que estava cortando o cabelo na Rua Riachuelo. Conversei com o Capitão Medina, e o Capitão me dizia: “Olha, acho que tu deverias estar lá na representação como um sinal de um gesto.” Eu estive lá e, ao lado, apenas os companheiros daquele soldado, encontrei apenas o Chefe do CPC, nada mais do que isso, nenhuma outra autoridade.

Em terceiro lugar, nesta semana, saindo de casa, indo a cem metros de distância, num barzinho pertinho da minha casa, no meu bairro, onde compro pão diariamente pelas manhãs, um cidadão que me atende, muito ansioso, perguntou-me: “Vereador, o senhor vai continuar morando aqui, não é?” “Por quê?” “Pô, Vereador, nós estamos no paraíso, agora tem brigadiano todo o tempo e tem carro da Polícia Civil passando a toda hora. Por favor, ajude a gente!” Aí tive o retrato do que é o sentimento de abandono da população em relação exatamente ao poder que está, em última análise deveria estar, preparado para auxiliar o cidadão.

Com esses três exemplos não pretendo criticar ninguém, mas apenas tentar dizer aos senhores que a nossa posição vai ser sempre de compreender, em primeiro lugar, o trabalho que cada um representa, e por intermédio das entidades poder desenvolver um diálogo permanente, sabendo muito bem que em alguns momentos teremos pressões, tensões e sobretudo respeito dos dois lados, e que vocês, como eu vi na mesa de muitos que aqui se encontram, que ainda guardam com carinho o símbolo das nossa campanha e que tiveram portanto expectativa disso, por favor, mantenham essa expectativa de que realmente vamos fazer o Rio Grande um Rio Grande também em relação ao policial.

Minha saudação ao Sr. Delegado, a minha saudação ao Presidente desta Casa, a minha saudação a todos os senhores profissionais da segurança, policiais civis e militares. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): O Sr. Dr. José Antônio Araújo, Chefe da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, está com a palavra.

 

O SR. JOSÉ ANTÔNIO ARAÚJO: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Gostaria de agradecer aos Vereadores e às Vereadoras do Município de Porto Alegre pela significativa homenagem, em particular ao Presidente desta Casa e ao Ver. Pedro Américo Leal, que, anualmente, rememora, neste Plenário, o Dia da Polícia Civil. Representando os policiais civis gaúchos, manifesto a nossa gratidão pelas palavras aqui pronunciadas.

Nossa visita a esta Casa reaproxima instituições que atuam irmanadamente na sociedade e têm origens semelhantes: polícia e política são palavras que derivam da mesma expressão: “Polis”, a cidade-estado grega. O Parlamento e a Polícia são indispensáveis a qualquer organização social democrática moderna. Possuímos objetivos semelhantes, qual seja, o bem-estar social. Essas são as características que nos agregam e nos dignificam.

Este ato adquire, ainda, novo significado, esse em especial para mim, por aproximar-se o fim do terceiro ano de minha administração como Chefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul, o que me estimula a tecer algumas considerações sobre essa atividade.

Nesses três anos, buscamos incessantemente a integração do serviço policial. E, quando digo integração, não me refiro apenas àquela dos debates nacionais, das propostas de emendas constitucionais, da Polícia única, do ciclo completo da Polícia. Falo da integração dentro da própria Polícia Civil, entre comando e comandados; autoridades e seus agentes e, principalmente, entre a polícia e os cidadãos. Refiro-me a uma nova hierarquia, baseada nos elevados conceitos da humanidade e profissionalismo, o que buscou valorizar o policial e dignificar o seu trabalho. Vozes conservadoras levantaram-se contra o que chamavam de “quebra de hierarquia”, como se as relações entre autoridades e agentes devessem ser marcados pelo medo no lugar do respeito, pelos favorecimentos em troca do profissionalismo, e pela cumplicidade, em seu sentido mais vulgar, em substituição ao companheirismo. A hierarquia, senhoras e senhores, é fundamental a qualquer instituição, mormente àquelas que labutam em defesa da sociedade. Mas a hierarquia que buscamos não prescinde da opinião e nem das idéias dos agentes policiais. Tenho convicção de que ferimos de morte esses conceitos ultrapassados.

Antes de integrarmos as Polícias entre si, devemos integrá-las com a sociedade que nos mantém. É da história desta Pátria a representação da Polícia, operadora e monopólio da violência física legítima do Estado, vinculada a minorias privilegiadas, principalmente em decorrência do exercício do poder econômico. Era falácia dizer que os serviços de Polícia estavam ao alcance de qualquer cidadão. Travamos uma luta constante contra esse estado de coisas, aproximando a Instituição da sociedade e fazendo com que a Polícia atue ao lado daqueles que dela mais necessitam, por estarem expostos mais diretamente à criminalidade, ao preconceito e a toda a sorte de mazelas. Buscamos uma Polícia social, que veja o indivíduo não como inimigo que precisa ser eliminado, mas como detentor de direitos que reclama respeito. Desejamos uma Polícia cidadã, que proporcione tratamento equânime e igualitário à sociedade. Estou plenamente convencido de que sem alcançarmos as integrações interna e social não estaremos aptos a qualquer integração, como outra instituição policial.

Não posso me eximir de falar sobre crime organizado e a corrosão que provoca no tecido policial. Tenho a mais absoluta certeza de que somente uma minoria de servidores policiais não está ao abrigo do imaculado manto da probidade. Entretanto, esse pequeno grupo cria entraves à superação do maior desafio policial da atualidade, qual seja: a repressão efetiva da criminalidade organizada. O mestre argentino Eugênio Zaffaroni afirma categoricamente que a principal fonte do crime organizado é o próprio Estado, e não podemos fechar os olhos a essa realidade. Não compactuamos com a violência policial, nem com a corrupção em qualquer nível. O norte desta administração foi o combate ao crime, onde quer que estivesse, nem que para isso fosse preciso, como várias vezes ocorreu, buscar o delinqüente nas entranhas da instituição.

Poucos que estão na contramão do objetivo principal da Polícia Civil causam um estrago enorme a nossa instituição, denegrindo a imagem da maioria que é honesta, dedicada e proba. Extirpando aqueles estaremos valorizando, elevando a auto estima desses.

Falaram em desmonte da Polícia Civil, pois muito bem, a DEFREC de Canoas, uma delegacia especializada no combate ao furto, roubo, entorpecente e capturas, ali se formava uma quadrilha chefiada por um Delegado de Polícia e cinco agentes. Foram presos, julgados, condenados a vinte e quatro anos de prisão. Inconformados, apelaram ao Tribunal, e a pena foi reformada para vinte e seis anos. A DEFREC de Rio Grande, também uma delegacia especializada em furto, roubo, entorpecentes e capturas, lá foram presos cinco policiais que estavam atuando, infelizmente, no crime organizado.

Tem uma passagem, nos telefonemas que foram gravados, os policiais utilizando o telefone da delegacia de polícia, comandando quadrilhas, os quadrilheiros mais conscientes que esses falsos policiais; no assalto a um supermercado avisaram: “Aqui tem criança, quem sabe vamos deixar para o outro dia.” E a resposta desses falsos policiais: “Não, mete assim mesmo.” Ora, meus senhores, se isso é desmanche, então estamos desmanchando mesmo! Isso é desmonte? Nós desmontamos!

A DEFREC de Passo Fundo, também uma delegacia especializada, o antigo DEIC, quatro delegacias de roubo, uma das delegacias de roubo com dez policiais, sete nós prendemos envolvidos diretamente no crime organizado. Se isso é desmonte, o Delegado Araújo desmontou sim!

Inspetor em Esteio, Vereador em Sapucaia, Presidente da CPI dos pardais, fez assalto a banco, Caixa Econômica Federal, em São Francisco de Paula, meteu a cara, está preso, rendeu muito pouco, ele matou um dos componentes da quadrilha. Isso é desmonte? Nós estamos desmontando, sim.

Um Delegado de Polícia de quarta Classe, a última Classe na carreira na nossa Polícia, era apelidado de Cofrinho. Todos os senhores sabem, isso faz dez anos. Achavam graça, só que nós paramos de achar graça, nós o prendemos e ele está sendo submetido à Justiça. Isso é desmonte? Sim, senhores, nós estamos desmontando.

Nós lançamos a semente com mãos honestas, num terreno fértil, fertilizante da honestidade a maioria de policiais que temos em nossa Instituição. A semente será regada pela sociedade que, tenho certeza, não deixará, jamais, voltar ao estado em que nos encontrávamos.

Nós, da Polícia Civil, nunca admitimos e não admitiremos, mais ainda, que pessoas dessa estirpe contaminem a nossa Instituição.

Perseguimos, incansavelmente, o ideal da Polícia democrática. Buscamos o entendimento e procedimentos igualitários e eqüitativos, a abolição de práticas discriminatórias, preconceituosas ou marginalizantes, a adoção de medidas propiciadoras da inserção da Polícia na comunidade e da participação social na Polícia, a valorização do servidor e o extermínio da corrupção e das práticas delitivas. Defendemos como dogma a primazia pela vida, pelo ser humano, o resgate do valor social e ético, a especialização e a qualificação dos servidores, as mudanças de paradigmas e modelos de instituições, equivocadamente mantidos e cultuados, e a avaliação das causas da prática delitiva para uma prevenção e um combate mais eficiente do crime.

Nós nos ativamos por meio de portarias e ordens de serviço; hoje, nenhuma ocorrência fica escondida dentro de alguma gaveta ou no porão da Delegacia de Polícia. O caminho delas sempre será o Judiciário e o Ministério Público. Isto nós normatizamos: ninguém deixará de ser atendido, por esta normativa.

Nós sentimos o cheiro do sangue, da pólvora, e o som do tiroteio, arriscamos nossas vidas em defesa da sociedade. Eu gostaria, aqui, de homenagear e até de rezar por esses policiais que perderam as suas vidas no combate, na defesa da nossa sociedade, e também aos seus familiares, seus filhos, seus vizinhos, e seus conhecidos, que amargam a dor da perda. Ouvimos e sentimos o desespero dos mais humildes e o apelo daqueles que passam fome e vivem na miséria, nós subimos o morro para buscar e apreender os televisores, os vídeocassetes, as bicicletas e muitas outras coisas, furtadas e roubadas aqui no asfalto. Vemos e ouvimos aqueles que não têm oportunidade, emprego, renda. As viaturas são cercadas por centenas de adolescentes, meninas de dez a quinze anos, com um filho na mão, outro no colo e outro no ventre. Nós temos sentimentos. Nós somos policiais, somos humanos e temos sentimentos. E começamos a calcular no que vai dar isso no futuro. E esse futuro já chegou. Nós sabemos que existe uma sociedade legal que não oferece oportunidade, emprego, renda, educação, saúde, cultura e diversão; por outro lado, também sabemos que existe uma sociedade ilegal que oferece, numa esquina, meia dúzia de petecas de cocaína, uma metralhadora, três ou quatro mil reais por mês. E a sociedade acredita que o problema é só da Polícia. Meninas de dez a quinze anos preferem um menino que tem uma metralhadora e algumas carreirinhas para cheirar. E não é menina do morro, não; é menina aqui do asfalto também. Como é que se muda isso? Não é só com polícia, também com polícia, mas também não é só com polícia.

Para alcançar o nosso desiderato, recebemos dos policiais dedicação ao serviço e o integral respeito às leis e às instituições constitucionais, para que sejamos identificados com os superiores interesses do Estado e para impedir que um servidor atue contra os fins e objetivos legítimos da Administração. Este contexto de ética, decoro, dignidade e consciência dos princípios morais deve orientar a realização das atividades policiais. Com isso, buscamos o exercício da função precípua de qualquer instituição policial, que é a garantia dos direitos. Cerimônias como esta aproximam a Polícia Civil do cidadão, pavimentando um caminho na comunidade para que ela possa fiscalizar o agir do policial, numa simbiose que resulta em confiança, qualidade, redução dos índices criminais e aprimoramento da Segurança Pública.

Saibam os senhores e as senhoras que a Polícia Civil mantém em seus quadros servidores públicos no mais elevado e digno conceito que esta expressão encerra. A Polícia Civil gaúcha deixou de ser mera força repressiva do Estado para constituir-se em defensora, promotora e protagonista dos direitos humanos, mormente na atual Administração. Assim, os policiais guiam suas ações profissionais pelo mais absoluto antagonismo à criminalidade, seja moral ou metodológica. Por isso a importância deste ato, que tomo a liberdade de interpretar como o reconhecimento da sociedade porto-alegrense ao trabalho desenvolvido pela Instituição.

Aproveito a oportunidade para homenagear os meus irmãos policiais e viva o nosso dia! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Carlos Alberto Garcia): Queremos registrar, além da dos Vereadores que ocuparam a tribuna, a presença dos Vereadores Ervino Besson, do PDT; e Cassiá Carpes, Líder do PTB.

Ver. Pedro Américo Leal, mais uma vez parabéns por V. Ex.ª, que domina este assunto, ter tido, há alguns anos, essa iniciativa de, no mês de novembro, homenagear a Brigada Militar e a Polícia Civil. E hoje a questão da Segurança Pública é o tema mais envolvente, não só no nosso Município, não só no Estado, mas no Brasil e no mundo, num mundo tão conturbado. O senhor sabe que, sempre que possível, também procuro participar desses atos, hoje, na qualidade de Presidente desta Sessão, mas pela Polícia Civil eu tenho um carinho e um respeito muito grandes, porque a minha formação se deve a isso, meu pai foi Policial Civil, da antiga Guarda Civil. Eu vejo aqui a questão da UGAPOCI; minha mãe, hoje com oitenta anos, ainda utiliza a UGAPOCI. Lembro-me da matrícula dele, de n.º 24.412, quando nós fazíamos compras na cooperativa. Mas, realmente, este assunto da Segurança Pública transpassa a questão social, ele tem que ser discutido como um todo. E cada um tem a sua parte, quando a gente levanta as questões de valores dentro de casa, quando a questão da violência é feita de formas que nós não conseguimos entender. Diz-se, e está na Constituição, que a Segurança Pública é um dever do Estado, mas um direito de todos. Mas é difícil também, ao mesmo tempo, ver quadrilhas preparadas e policiais, muitas vezes, sem armamentos. Na realidade o que temos que fazer é uma ampla discussão nacional, ver o que cada um pode fazer de sua parte para resgatar, para lutar, e esta é uma luta incessante. Agora, urge resgatar a credibilidade do policial junto à sociedade. E ao mesmo tempo devolver a cada um e cada uma dos policiais a sua auto-estima, porque o processo merece isso. Esta é a nossa luta e por isso eu digo, Ver. Pedro Américo Leal, a Casa tem essa sensibilidade, neste momento, de homenagear, prestar a nossa gratidão à Polícia Civil, sabendo das suas deficiências, mas, ao mesmo tempo, também sabemos das nossas deficiências. Cabe aqui, neste dia de reflexão, ver o que cada um dos cidadãos e cidadãs deste nosso Município pode fazer para reverter e melhorar esse processo.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a todos pela presença e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h32min.)

 

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